Shenzhen com Giovanna: Uma Jornada Pessoal Além da Tecnologia
Shenzhen com Giovanna: Uma Jornada Pessoal Além da Tecnologia
Levar minha filha Giovanna para um programa de intercâmbio em Shenzhen foi uma experiência que vai muito além do que eu imaginava. Ela foi estudar na mesma instituição que frequenta no Brasil, só que lá, do outro lado do mundo. E eu, que já visitei dezenas de países, descobri que ainda tinha muito o que aprender sobre conexão, sobre estar presente, e sobre como uma cidade pode surpreender.
Por Que Fomos
Giovanna foi selecionada para um programa de intercâmbio da escola dela. A mesma instituição, o mesmo currículo, mas em Shenzhen. A oportunidade era única, e como pai, não pensei duas vezes em acompanhá-la nessa jornada.
Confesso que, inicialmente, minha mente de profissional de tecnologia já estava pensando em Huaqiangbei, no mercado de eletrônicos, nas possibilidades técnicas. Mas a viagem se revelou muito mais rica do que eu esperava.
Descobrindo Shenzhen Além da Tecnologia
Shenzhen é uma cidade linda. Não é apenas moderna — é impressionantemente bem planejada, com parques imensos, arquitetura que mistura o futurístico com o tradicional, e uma energia que você sente nas ruas.
Caminhamos pelo Shenzhen Bay Park, um parque urbano à beira-mar que se estende por 13 quilômetros. Ver Giovanna explorando um lugar tão diferente, tirando fotos, rindo com coisas que a surpreendiam, foi um dos momentos mais especiais. Longe da rotina de São Paulo, longe dos compromissos, estávamos apenas presentes, pai e filha descobrindo o mundo juntos.
Visitamos o Window of the World, um parque temático com réplicas de mais de 130 atrações turísticas famosas. Ver a Torre Eiffel, as Pirâmides de Gizé, tudo em um só lugar, foi divertido. Mas o melhor foi ver o encantamento da Giovanna, a curiosidade genuína de uma adolescente descobrindo o mundo.
As Comidas que Nos Surpreenderam
A comida em Shenzhen foi uma aventura à parte. Como alguém que viaja muito, pensava que já tinha experimentado de tudo. Engano meu.
Começamos com dim sum, aqueles pequenos pratos que chegam em cestinhas de bambu. Giovanna, que em São Paulo é mais seletiva, se aventurou a experimentar tudo. E descobrimos sabores que não conhecíamos. Har gow, siu mai, char siu bao — nomes que agora fazem parte do nosso vocabulário familiar.
Exploramos a Rua Antiga de Dongmen, uma movimentada rua de pedestres repleta de restaurantes e barracas de comida de rua. Foi lá que Giovanna provou pela primeira vez hot pot, aquele caldeirão de caldo fervente onde você cozinha seus próprios ingredientes. Ver ela escolhendo o que queria cozinhar, experimentando combinações, foi uma lição de coragem e abertura para o novo.
Comemos em restaurantes pequenos onde ninguém falava inglês. Aprendemos a apontar, a usar gestos, a confiar no que os outros estavam comendo. E descobrimos que a comida une as pessoas de formas que a linguagem não consegue.
Provamos pratos que não sabíamos nem o nome. Alguns deliciosos, outros... interessantes. Mas todos fizeram parte da experiência. E hoje, quando falamos sobre a viagem, as comidas são sempre um dos primeiros tópicos. "Lembra daquele restaurante onde a gente não sabia o que estava pedindo?" É uma memória que vamos carregar para sempre.
A Tecnologia Como Pano de Fundo
É claro que, sendo quem sou, não pude deixar de visitar Huaqiangbei. E foi lá que aconteceu um episódio que ilustra perfeitamente as possibilidades que a cidade oferece.
Meu MacBook apresentou um problema na placa lógica. No Brasil, a solução seria trocar a placa inteira, com orçamento alto e prazo de semanas. Em Huaqiangbei, um técnico usou um microscópio, identificou o chip específico com problema, fez uma micro-soldagem, e em três horas estava funcionando perfeitamente. Funciona até hoje, meses depois.
Mas esse episódio foi apenas uma ilustração. O que realmente me impressionou foi ver o ecossistema completo: 40 shopping centers dedicados a eletrônicos, milhares de lojas, tudo especializado. Um prédio só para baterias, outro só para telas, outro só para câmeras. A especialização é absurda, e a velocidade de iteração é impressionante.
Vi um protótipo de drone sendo testado em uma loja. O dono fez três ajustes enquanto eu assistia, e a próxima versão já estava em produção no dia seguinte. No Ocidente, isso levaria semanas ou meses. Em Shenzhen, é terça-feira.
Momentos Fora da Rotina
O que mais me marcou foi ter tempo. Tempo de verdade com minha filha, sem a pressão do dia a dia em São Paulo. Sem reuniões urgentes, sem emails para responder, sem a correria que define nossa vida normal.
Caminhamos sem destino. Sentamos em cafés e apenas conversamos. Descobrimos lugares juntos. Rimos de situações engraçadas, como quando tentávamos pedir algo e ninguém entendia, ou quando descobríamos que tínhamos pedido algo completamente diferente do que pensávamos.
Giovanna me mostrou uma perspectiva que eu não tinha. Ela notava coisas que eu não via — detalhes da arquitetura, pessoas na rua, pequenos momentos que fazem uma viagem especial. E eu aprendi a desacelerar, a observar, a estar presente de verdade.
A Cidade que Surpreende
Shenzhen não é apenas uma cidade tecnológica. É uma cidade que respira inovação, sim, mas também tem alma. Os parques são imensos e bem cuidados. A arquitetura moderna convive com tradições. O metrô é eficiente e limpo. As pessoas são acolhedoras, mesmo com a barreira do idioma.
Visitamos o Splendid China Folk Village, que apresenta miniaturas de locais históricos chineses e performances culturais. Ver a história e a cultura da China resumidas em um lugar foi educativo para ambos. E ver Giovanna absorvendo tudo isso, fazendo perguntas, conectando pontos, foi ver o aprendizado acontecer na prática.
Reflexões de Segurança (Porque Sou Quem Sou)
Como profissional de segurança, não pude deixar de pensar em supply chain security. Quase tudo eletrônico que usamos passa por Shenzhen de alguma forma. Componentes, montagem, algo na cadeia. Isso cria dependências geopolíticas, vetores de ataque potenciais, questões de confiança.
Mas também aprendi que não dá para ser "anti-China" e usar eletrônicos. A matemática não fecha. A solução é verificação, diversificação, monitoramento. E entender que o mundo é complexo, interconectado, e que precisamos navegar essa complexidade com sabedoria.
O Que Ficou
Voltamos para São Paulo com muito mais do que lembranças. Voltamos com uma conexão mais forte, com histórias para contar, com sabores que ainda tentamos reproduzir em casa (com resultados variados, confesso).
Giovanna voltou mais confiante, mais curiosa sobre o mundo, mais aberta a experiências diferentes. E eu voltei com a certeza de que, às vezes, as melhores viagens são aquelas onde você não está apenas visitando um lugar, mas descobrindo quem você é quando está longe da sua rotina.
Shenzhen me mostrou que uma cidade pode ser tecnológica e humana ao mesmo tempo. Que inovação e tradição podem coexistir. Que comida pode ser uma forma de conexão. E que passar tempo de qualidade com quem você ama, longe das distrações do dia a dia, é um dos maiores presentes que podemos nos dar.
Para Quem Quiser Visitar
Se você tem a oportunidade de ir a Shenzhen, vá. Não apenas pelos eletrônicos, mas pela experiência completa. Explore os parques, experimente a comida, caminhe sem pressa, converse com as pessoas (mesmo que seja por gestos). A cidade tem muito a oferecer além da tecnologia.
E se você tiver a sorte de ir com alguém especial, como eu tive com minha filha, aproveite cada momento. Porque viagens assim não são apenas sobre o destino — são sobre quem você é quando está longe de casa, e sobre as conexões que você fortalece no caminho.
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